segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

sabedoria canina

''Por que saem tanto?'', pensa o cão. ''O que há la fora, além do asfalto morno, algumas plantinhas esquisitas e cheiros desconhecidos?''. O homem volta mais uma vez de algum passeio, desnecessário aos olhos do cão, e volta com um olhar ainda um pouco mais descontente do que possuía ao acordar. Seu cão lhe dá as habituais boas vindas, como a um viajante que estivesse há tempos ausente. Mas são os mesmos agrados de sempre; na verdade, é o seu melhor que o cãozinho tem a oferecer e pensa, assim, estar agradando. Sua alegria ao vê-lo é tão real e sincera, como isso não agradaria a alguém?! Tivesse o homem saído por apenas quinze minutos, o cão o teria recebido da mesma forma, com olhos que dizem sempre ''ainda bem que voltou, fez uma boa escolha!''. O dono nada mais faz do que empurrá-lo com a mão e um grunhido, de homem que só encontrou frustrações no seu dia, do lado de fora, na rua, com outros homens igualmente ocos. O cão não entende por que seu dono insiste em sair para esse lugar o qual ele também deve concordar: é hostil. Seu ser insiste, mas, em verdade, não sabe o que ainda procura lá. ''E afinal'', pensa o animal, ''aqui em casa temos tudo o que precisamos, não? Temos comida, alguns restos que sejam; temos cama. eu, mesmo, tenho um velho cobertor, com alguns remendos, é verdade, mas me serve tão bem; temos uma lareira quentinha, na qual eu te ouço resmungar algo que não entendo, mas tua voz arrastada me conforta, pois sei que estás por perto.'' Este é um homem só, tão só e impenetrável, que mal percebe a presença de, talvez, o único que o enxergue, verdadeiramente. Seu cão é o único que o enxerga, o único que o vê, por trás da máscara tão insistentemente trabalhada, a qual ele acaba de jogar no sofá. O cão é, também, o único que seria capaz (e o é) de apreciar essa verdade desnuda, esse ser humano estupidamente inventado, que agora, longe dos olhares públicos, está cru. És um ser de todo incoerente, mas teu cão não exige de ti qualquer lógica ou explicação. Em verdade, teu cão aprecia a incoerência e a ausência de sentido, afinal, quer coisa mais sincera do que isso, na alma humana? E (enquanto seu amigo o observa atentamente) dá um longo suspiro, de quem acaba de voltar de uma trabalhosa e inevitável missão. Como dito, é uma missão atrás de não-sei-o-quê, uma missão chamada Conviver. É uma rotina fiel: acorda (com uma severa melancolia por tê-lo feito) e custosamente levanta da cama por não se sabe qual impulso, mas é um impulso que parece, também, o fazer esquecer do dia anterior: fôra a mesma mesmice, o mesmo desgosto. E então, com alguma esperança, o homem se veste, como para a guerra, abre a porta e vai. ''Certamente alguma coisa boa tem de acontecer hoje. Ou pelo menos, nenhuma ruim''. De fato: nenhuma coisa boa, nenhuma coisa ruim. Nada acontece. É a mesma frivolidade de todos os dias. Cumprimenta algumas vinte mãos, das quais metade desconhecidas; se frusta na diária impossibilidade de entendimento e comunicação com aqueles, tão seu semelhantes e, ao mesmo tempo, tão distantes, igualmente impenetráveis. E, assim, volta para o seu lar. É onde pode se deixar ser. É onde pode despejar alguns pesos e correntes no canto da sala e enfim respirar alguma paz. Paz, esta, que ele obviamente não percebe. Está muito ocupado se afundando na própria miséria, descontente consigo e com o mundo, a vida! a culpa toda na vida. Está muito ocupado calculando o saldo do dia, da sua existência: nulo.

5 comentários:

Anônimo disse...

adoro a sua simplicidade e as coisas que você se importa, amo ver as coisas através dos seus olhos. procuro em todo lugar algo que me mostre um pouco mais de você. que seja nas suas palavras, que seja nas suas manias, na sua voz, nos seus risos abafados, nas suas lágrimas quentinhas. amo tudo o que é você.

seu,
breno.

Anônimo disse...

estou no telefone com você A-GO-RI-NHA e você é a coisa mais linda do mundo bicuda. eu te amo mais do que chocolate quente em dia frio, te amo mais do que café de manhã, te amo mais do que sorvete em dia de verão. a linda das lindas do mundo inteiro.

Anônimo disse...

Para você que quer lavar o seu bichinho:

PROMOÇÃO

1 Lavagem custa somente DOIS beijinhos.

e MAIS:

Aproveite e leve também os abraços cheirosos do Menezes. O maior e melhor cafuné de Campinas e uma mordidinha na orelha.

❤ Kakao ❤ disse...

Que texto bem feito, vc que escreveu? Gostei bastante, sou mto fã de cachorros e adoro qdo as pessoas percebem os pequenos gestos carinhosos deles, vale mais do q td!!

E mto obrigada pelo seu apoio, fiquei mto feliz pela compreensão e por vc me acompanhar ha tempos! Não nos conhecemos pessoalmente? Seria legal! E pq vc não adere ao estilo lolita? Eh maravilhoso, se vc gosta, não deixe de tentar!!

Bjs de morango e se precisar eh só falar!!

❤ Kakao ❤ disse...

Caramba, vc realmente sabe escrever, eu só sei ser blogueira, se tiver q fazer um texto mais profundo eu ja travo! XDDD

Então, eu sai do Center 3, quem sabe mais pra frente eu volto, qdo pararem com a palhaçada do aluguel e da pessima organização, fazer o q neh? Mas vc frequenta por la?

Bjão!