quinta-feira, 6 de agosto de 2009

keep your head

havia uma menina fácil de se encantar. tudo a deixava vulnerável à suspirar: palavras bonitas, um casal de velhinhos no parque, surpresinhas bobas, luzes num parque de diversões, nuvens rosas no pôr do sol, ou até uma combinação certa de cores. qualquer coisa que parecesse harmoniosamente bela aos seus olhos, lhe era uma atração fatal. essa menina era daquelas que mesmo se vivesse no ambiente mais tortuoso e desagradável, faria questão de ter um vaso de flor no seu cantinho, só para ter algo bonito para admirar, uma sensação de vida que lhe garantisse algum humor.

essa contínua busca, inerente à seu ser, moldou também a sua personalidade. tudo visava à um equilibrio, não só interno, mas também com o mundo que a cercava. a menina tentava ser graciosa e agradar à todos, favorecer sempre ambos os lados da questão. imparcialidade era a força que a movia. era o que lhe garantia apreciar diferentes visões de mundo, e valorizar cada uma. essa imparcialidade era uma das faces de seu aspecto racional, pois apesar de parecer inocentemente movida por emoções, a menina era muito mais racional do que intuitiva. não sabia responder instintivamente à algo, suas reações só eram efetivadas depois de muito refletir. hesitações sempre dominaram seus pensamentos conflitantes, uma vez que para ela, analisar algo era considerar todos os pontos de vista.

essa menina conservava aparência reservada e introspectiva, sem muitos atrativos. preferia guardar seus turbilhões de pensamentos para si mesma, ja que nem ela mesma dava conta de organiza-los e para ela, expor seu interior era uma tarefa certamente intraduzível em palavras. sabia que fazendo isso, a essência de suas ideias acabariam distorcidas e até perdidas. não só pq ''o que se sente lentamente se torna no que se diz'', como também pq uma ideia em contato com o mundo externo, precisa, antes de tudo, caber nele. e ela sentia na maioria das vezes, que elas nao cabiam.

então de certo modo, a menina preservava seus pensamentos mais complexos intocáveis. não queria se perder na sua organização humana, nos artifícios necessários à convivência, no desgaste diário de SER humano. não queria se esquecer do seu interior, pois sabia que apesar de ainda não ter sido desvendado (nem por ela mesma) era valioso em ideias e sentimentos, que julgava prósperos.
no fundo, ela queria poder, um dia, dá-los para alguém. alguém que desvendasse todas as suas facetas, e apreciasse cada uma delas. um alguém que também teria muitas coisas bonitas para ela, e eles dividiriam suas histórias e teorias, desde a mais boba, sobre um graveto no chão, até à mais ambiciosa, sobre como se ter uma existência eterna. eles dividiriam seu amor pela vida, e chorariam cada vez que se lembrassem que, um dia, suas mãos e seus olhos se desencontrariam e eles se separariam inevitavelmente. (....)

então vc pensa que essa menina só fazia as coisas certas, ja que era tão reflexiva e não esperava nada além de um pouco de bom senso e empatia. porém, ela era também instável e hesitante
. absorvia mágoas e insatisfações, e geralmente guardava consigo não só pela razão ja citada acima, como tbm pq tinha medo de ferir as (poucas) pessoas de que gostava. e quanto mais sentia que todos os seus passos eram errados e tudo a levava a nunca se estabilizar, mais perdida se sentia. (...)

então essa menina tinha dois caminhos a escolher, e escolheu.




Um comentário:

Anônimo disse...

e a menina volta pra dizer o que ela encontrou? perder-se também é caminho. (sim?)